Tese - ... constou-me que ontem cirandaste pela cidade, sem propósito...
AC - nada que te toque.
Tese - nem cabeçalho tenho...
AC - pouco barulho
Tese - ... pouco silêncio...
AC - e um caixote do lixo à tua espera?
Tese - ...caixa de música para o teu fracasso!
AC - Desinfecta!
Tese - fica-te nesse pensamento.
(Quando logo te esticares no sofá, aí te visitarei...)
sábado, 29 de novembro de 2008
xy:z
Bobo: A Verdade é uma cadela que que obrigam a recolher ao canil: enquanto a correm a chicote, Princesa, a cadela de caça pode ficar tresandando junto ao lume.
Lear: ferida envenenada que me dói!
Excerto de
O Rei Lear,
com tradução de Álvaro Cunhal,
da CAMINHO
Lear: ferida envenenada que me dói!
Excerto de
O Rei Lear,
com tradução de Álvaro Cunhal,
da CAMINHO
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
02:2etal
Na outra noite, cansado dos dentes ruidosos da Matilde, levantei-me da cama num impulso e arremeti-me no sofá da sala para 5 minutos de descanso. Encerrei-me por debaixo de um braço, mas senti nas pálpebras uma iluminação excessiva que me fez abrir os olhos: - devo ter ligado a televisão ao afastar o comando para me esticar - pensei com alguma surpresa. As imagens do filme que passava na 2 eram igualmente enigmáticas: uma mulher de expressão assustada rezava uma Avé-Maria ao volante. Seguia viagem, parava numa rua onde todos fugiam cada um para seu lado, alguns nem roupa tinham. Surge uma velha no vidro do automóvel e exclama: - Fuja menina, que é o fim do mundo! Tudo aquilo me era real.
Comprendi naquele instante que não podia continuar ali e regressei à cama.
Comprendi naquele instante que não podia continuar ali e regressei à cama.
sábado, 22 de novembro de 2008
E o realizador não era o Sergio Leone
...
Era um jovem desleixadamente vestido, com uma sobrecasaca de mangas ensebadas até ao lustro, um colete cheio de nódoas abotoado até ao pescoço para tapar a ausência de camisa, desaparecida sabe Deus como, com um cachecol de seda negra incrivelmente emporcalhado e torcido como uma corda, as mãos sujas...
O seu rosto não exprimia a mínima ironia, a mínima reflexão; pelo contrário, era o espelho de completo e torpe arrebatamento pelo seu direito e, também, de qualquer coisa próxima da permanente e estranha necessidade de ser e se sentir sempre ofendido.
...
excerto de O Idiota,
de Fiódor Dostoiévski
Era um jovem desleixadamente vestido, com uma sobrecasaca de mangas ensebadas até ao lustro, um colete cheio de nódoas abotoado até ao pescoço para tapar a ausência de camisa, desaparecida sabe Deus como, com um cachecol de seda negra incrivelmente emporcalhado e torcido como uma corda, as mãos sujas...
O seu rosto não exprimia a mínima ironia, a mínima reflexão; pelo contrário, era o espelho de completo e torpe arrebatamento pelo seu direito e, também, de qualquer coisa próxima da permanente e estranha necessidade de ser e se sentir sempre ofendido.
...
excerto de O Idiota,
de Fiódor Dostoiévski
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Elis
Ah! Dizem que fazia amor com qualquer um... E que se drogava
Ah! Dizem que foi apanhada a ver o mar com outra mulher...
Ah! Dizem que foi encontrada morta... Os pulsos cortados.
"dizem que não sabiam quem era",
Jorge Palma
sábado, 8 de novembro de 2008
A Ascenção da Liberdade
"...o que é que acontece à pérola do nosso ser, o que sucede com a nossa liberdade?
A liberdade, responderei, mas não vedes então, do ponto em que me coloco, que ela aparece por todos os lados, - e que ela cresce por todos os lados?Eu sei: por uma espécie de obsessão inata, não conseguimos desembaraçar-nos da ideia de que é ficando o mais isolados possível que nós seremos mais senhores de nós próprios. Ora, não será o contrário que é verdade ? Não o esqueçamos. Em cada um de nós, por estrutura, tudo é elementar, incluindo mesmo a nossa liberdade.Impossível desde logo continuarmos a libertar-nos sem nos reunirmos e nos associarmos convenientemente. Operação perigosa, certamente, uma vez que, seja misturadas em desordem, seja engrenadas entre si como simples maquinismos, as nossas atividades neutralizam-se ou mesmo mecanizam-se (como experimentamos à saciedade). Mas operação salvífica, também, visto que, unidas centro a centro (ou seja, numa visão ou numa paixão comuns), elas se enriquecem indubitavelmente. Uma equipe, dois amantes... Operada na simpatia, a união não se limita, ela exalta as possibilidades do ser. A uma escala limitada, é o que se experimenta por todos os lados e todos os dias. A uma escala mais vasta, à escada do total, se a lei é inerente à própria estrutura das coisas, por que não haveria ela de valer ainda mais?Simples questão de intensidade no campo que polariza e atrai. No caso duma união cega ou dum arranjo puramente instrumental, é verdade que o jogo dos grandes números materializa, - mas, no caso duma unanimidade realiza pelo interior, ele personaliza e mesmo, acrescentaria eu agora, infalibiliza as nossas actividades. Uma só liberdade, tomada isoladamente, é fraca, incerta e pode facilmente errar nos seus tateios. Uma totalidade de liberdades, agindo livremente, acaba sempre por encontrar o seu caminho. "
Capítulo de conclusão do artigo de Teilhard de Chardin publicado na Revue des Questions scientifiques, em 1947, intitulado "A formação da noosfera"
A liberdade, responderei, mas não vedes então, do ponto em que me coloco, que ela aparece por todos os lados, - e que ela cresce por todos os lados?Eu sei: por uma espécie de obsessão inata, não conseguimos desembaraçar-nos da ideia de que é ficando o mais isolados possível que nós seremos mais senhores de nós próprios. Ora, não será o contrário que é verdade ? Não o esqueçamos. Em cada um de nós, por estrutura, tudo é elementar, incluindo mesmo a nossa liberdade.Impossível desde logo continuarmos a libertar-nos sem nos reunirmos e nos associarmos convenientemente. Operação perigosa, certamente, uma vez que, seja misturadas em desordem, seja engrenadas entre si como simples maquinismos, as nossas atividades neutralizam-se ou mesmo mecanizam-se (como experimentamos à saciedade). Mas operação salvífica, também, visto que, unidas centro a centro (ou seja, numa visão ou numa paixão comuns), elas se enriquecem indubitavelmente. Uma equipe, dois amantes... Operada na simpatia, a união não se limita, ela exalta as possibilidades do ser. A uma escala limitada, é o que se experimenta por todos os lados e todos os dias. A uma escala mais vasta, à escada do total, se a lei é inerente à própria estrutura das coisas, por que não haveria ela de valer ainda mais?Simples questão de intensidade no campo que polariza e atrai. No caso duma união cega ou dum arranjo puramente instrumental, é verdade que o jogo dos grandes números materializa, - mas, no caso duma unanimidade realiza pelo interior, ele personaliza e mesmo, acrescentaria eu agora, infalibiliza as nossas actividades. Uma só liberdade, tomada isoladamente, é fraca, incerta e pode facilmente errar nos seus tateios. Uma totalidade de liberdades, agindo livremente, acaba sempre por encontrar o seu caminho. "
Capítulo de conclusão do artigo de Teilhard de Chardin publicado na Revue des Questions scientifiques, em 1947, intitulado "A formação da noosfera"
domingo, 2 de novembro de 2008
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