Só se escutam os ruídos das coisas, que as gentes guardam o silêncio como se não ousassem.
O cenário maior é a Lombardia, a mesma que atravessei umas vezes de estrada, outras em trilhos metálicos; igualmente plana, igualmente repetida, sem colina nem montanha, mesmo breve, que faça alçar o olhar e que empreste algum dramatismo à alma que a fita. Avanço na película de Ermanno Olmi e fixo-a numa mesa e na família que janta, em silêncio ainda. Outras em tudo iguais repetem os gestos e o silêncio, cada uma na sua cela com abertura para o quinteiro partilhado.
Há no entanto gestos que quebram esta rotina, aqueles no lar onde um pai cortou uma árvore do caminho para dela esculpir os sapatos que o filho não ousava pedir, e nesse amor se fez expulsar com os seus, por sentença do senhor que até então serviam.
Arrumam-se os haveres, o ruído alastra e anuncia a saída eminente a todas as famílias reunidas à mesa. Subitamente ergue-se um menino, num repente : quer ver os amigos partir, mas logo o pai o segura, em silêncio, e tudo serena no regresso aos gestos repetidos.
Só quando a família se afasta na paisagem é que revelam a sua dimensão: todas as portas se abrem e reúnem-se para a ver partir.
Não o fizeram assim por indiferença ou resignação, antes por respeito, ao não assistirem à vergonha alheia.
E a esse valor chama-se humanidade, que não tendo Pátria nem berço, foi naquela circunstância, italiana.
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