sábado, 20 de junho de 2009

Obliquar#2

Não se sabia onde a natureza cessava e tu principiavas,
na urgência que traziamos pelos meus dedos revelada
e havia mar ao fundo da acácia transfigurada.


paz contigo, AC

sábado, 6 de junho de 2009

Start life anew

Modern Times,
what else


(Char...?!!!!)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Urbino

Há passagens que suspendem a rotina.
surgem do nada e fixam o tempo, num encantamento que só a nós nos envolve.
Pode ser Haydn que rompe do ruído rasgado, pode ser um perfume que se chama memória ou paixão. ou memória da paixão que é por si , sentimento.
pode ser uma palavra.
Hoje foi Urbino, da Itália que conheci na idade adulta que traz ainda pela mão a descoberta. constante.
Em Urbino tudo se somou num espectro de cores e modos que não sei isolar. não quero.
Partiu a palavra, que nunca se demora, e a luz escoa-se na terra, ao pé da estátua.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Com dedicatória


Claudia Cardinale em Il Gattopardo (1963),
de Luchino Visconti

quinta-feira, 14 de maio de 2009

quarta-feira, 6 de maio de 2009

back to basics

or still "Someone take these dreams away,
That point me to another day,
A duel of personalities,
That stretch all true realities.

That keep calling me,
They keep calling me,
Keep on calling me,
They keep calling me"

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Absolute Beginners

Da religião maior.
Maior ainda que o amplexo azul que nos prometem; mais fina,
nervosa e incessante no seu movimento perpétuo.

só aí o tempo se permite cessar e tudo é suspensão pasmada.





"I´m an absolute beginner, and i´m absolutely sain"

sábado, 2 de maio de 2009

Equinócio de Setembro

Four o'clock in the afternoon and I didn't feel like very much.
I said to myself,
"Where are you golden boy, where is your famous golden touch?"


Once there was a path and a girl with chestnut hair,
and you passed the summers picking all of the berries that grew there;
were times she was a woman,
oh, there were times she was just a child,
and you held her in the shadows where the raspberries grow wild.
And you climbed the twilight mountains and you sang about the view,
and everywhere that you wandered love seemed to go along with you.
That's a hard one to remember, yes it makes you clench your fist.
And then the veins stand out like highways, all along your wrist.
And yes it's come to this, it's come to this,
and wasn't it a long way down, wasn't it a strange way down? *



*"Dress Rehearsal Rag", Leonad cohen, 1966

terça-feira, 28 de abril de 2009

Endless Endless

... give the girl a cigar

sábado, 25 de abril de 2009

Tanto mar


Foi bonita a festa, pá

Fiquei contente

E ainda guardo, renitente

Um velho cravo para mim

Já murcharam tua festa, pá

Mas certamente

Esqueceram uma semente

Nalgum canto do jardim

...*


* Tanto mar, Chico Buarque, 1978

quinta-feira, 23 de abril de 2009

domingo, 19 de abril de 2009

Verdes anos


O camarada que a espiava, deitado na duna recamada de longos fios de erva, embalava nos braços cruzados o queixo sombreado por uma covinha.
Tem dezasseis anos e meio, e Vinca vai nos quinze anos e meio.
Toda a infância os uniu, separa-os a adolescência.*

*Colette, Verdes Amores, Editorial Estúdios Cor, Lisboa, 3ª ed, 1963

sábado, 18 de abril de 2009

Versus

"Pintado, provavelmente, em algum momento entre 1303 e 1306 e dedicado à Virgem Anunciada, a obra-prima de Giotto di Bondone é o interior, em fresco, da Capela Arena, a qual, em Pádua, encontra-se no mesmo lugar de um antigo anfiteatro romano, de sorte que é desta feita que se dá a sua denominação.
O projecto inclui três fileiras de frescos, que, somados, totalizam trinta e quatro, os quais se distribuem ao longo das paredes do meio e superior. A fileira acima de todas mostra cenas do início da vida da Virgem; a fileira do meio, cenas da vida de Cristo; e, a fileira mais abaixo, cenas da Sua Paixão. Um fresco do Julgamento Final reveste a parede da entrada.
Ao longo da parte mais baixa das paredes, encontram-se figuras alegóricas dos vícios profanos e das virtudes divinas, com seus nomes, em latim, escritos sobre eles."1


1 Tradução de: ERICKSON, Glenn W. Giotto’s virtues. Revista do centro de artes e letras, Santa Maria/RS, v. 17, n. 1-2, p. 41-48, jan./dez. 1995.





Caritas

"Deus dá os frutos do amor aos mais pobres"


Invidia

"Quem não vê a graça alheia"


Tempera



Iram

Giotto rocks

Tem a forma exacta da Capela. No interior, um conjunto de fotografias reproduz os frescos, acompanhados de painéis didácticos e informativos que permitem mais facilmente reconhecer aquela que é das mais importantes obras-primas da arte ocidental: os frescos de Giotto na Capela de Scrovegni, em Pádua. *









quarta-feira, 15 de abril de 2009

quinta-feira, 26 de março de 2009

terça-feira, 24 de março de 2009

My kind of talk#2


"- Do you ever have déjà vu, Miss?

- I don't think so, but I could check with the kitchen"




passagem do filme Groundhog Day, de 1993

sexta-feira, 20 de março de 2009

É o meu segundo dia do pai

ouvem-se ruídos lá fora, e rasgo um sorriso. Amplo.


Fotograma de L'Albero degli Zoccoli, de Ermanno Olmo, 1978

"A árvore dos tamancos", ou um dia do Pai

Só se escutam os ruídos das coisas, que as gentes guardam o silêncio como se não ousassem.
O cenário maior é a Lombardia, a mesma que atravessei umas vezes de estrada, outras em trilhos metálicos; igualmente plana, igualmente repetida, sem colina nem montanha, mesmo breve, que faça alçar o olhar e que empreste algum dramatismo à alma que a fita. Avanço na película de Ermanno Olmi e fixo-a numa mesa e na família que janta, em silêncio ainda. Outras em tudo iguais repetem os gestos e o silêncio, cada uma na sua cela com abertura para o quinteiro partilhado.
Há no entanto gestos que quebram esta rotina, aqueles no lar onde um pai cortou uma árvore do caminho para dela esculpir os sapatos que o filho não ousava pedir, e nesse amor se fez expulsar com os seus, por sentença do senhor que até então serviam.
Arrumam-se os haveres, o ruído alastra e anuncia a saída eminente a todas as famílias reunidas à mesa. Subitamente ergue-se um menino, num repente : quer ver os amigos partir, mas logo o pai o segura, em silêncio, e tudo serena no regresso aos gestos repetidos.
Só quando a família se afasta na paisagem é que revelam a sua dimensão: todas as portas se abrem e reúnem-se para a ver partir.
Não o fizeram assim por indiferença ou resignação, antes por respeito, ao não assistirem à vergonha alheia.
E a esse valor chama-se humanidade, que não tendo Pátria nem berço, foi naquela circunstância, italiana.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Perceber de bola#2

"... afinal porque é que o árbitro marca falta??!"

- a baliza mexeu-se...

segunda-feira, 16 de março de 2009

Scratchzilla

Perceber de bola#1

"...e no Aves entra Chico Nelo..."

- chinelo prós amigos...

quarta-feira, 11 de março de 2009

domingo, 8 de março de 2009

A quinta da cento e sessenta e um

"Every other detail of life was subordinated to it."




excerto de The Culture of Cities, de Lewis Mumford



e uma imagem, porque não


quarta-feira, 4 de março de 2009

terça-feira, 3 de março de 2009

A melhor frase de um filme mau

" - Isso é bizarramente plausível..."

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

My kinda talk

- Suppose we would win, what would you do?

- Do what?

- With the money, what would you do?

- I´d buy some really good rat poison.


excerto do filme:
"Os cavalos também se abatem", de Sydney Pollack

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009


sábado, 31 de janeiro de 2009

"I will honey but now i got to get going"







Vi-o pela primeira vez de forma inesperada, no sofá da sala das horas tardias e já sem tempo, e não mais o larguei. Já havia visto Lynch, mas não de forma tão tangível, como se me cruzara com aquelas personagens em cantos do pensamento que é sonho de liberdade. e havia uma mulher que vestia apenas a sensualidade.
Encontrei-o de novo no Spazio Oberdan, no ano em que passei mais tempo na rua que debaixo de quatro águas. Desta vez com a inclusão da curta que havia integrado a apresentação em Cannes. assisti, full screen, ao ritual preciso de acender um cigarro.
Dizia à pouco que não acreditava em coicidências, meras abstrações lógicas plantadas pela superstição, mas recordei-o novamente depois do acidente do carro para a sucata: libertadas as pernas dos plásticos e sem um aranhão como me acontece, procurava, interessavam-me unicamente as chaves de casa.
Wild at heart é um dos meus filmes indissociáveis e vou-o encontrando numa curva, na febre de um quarto, a alumiar um cigarro.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Nadir Afonso





Douro


Fernando Lanhas









Belas Artes, 1942

Ontem pelo final da tarde estiveram à conversa no Porto, Nadir Afonso e Fernando Lanhas.
Sem alaridos, como por aqui acontece, falaram para uma reduzida plateia cada maior em número e cada vez mais pequena. Lanhas, da Arte, que "O homem só repara, que a nós não nos compete falar da arte". Nadir responde na esteira do pensamento que fundou toda a sua criação, "A arte procura a geometria como as plantas procuram o sol...". Sucedem-se as estórias, de Paris de Vasarely, do Rio de Niemayer. De Chaves e de Trás-os-Montes, onde a hipersensibilidade do artista apreende a presença da matemática e da geometria na harmonia das formas, nas suas regras universais.
É ainda o tempo dos Mestres.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

domingo, 11 de janeiro de 2009

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Obliquar #1

Circadiano


Nas aldeias,
recolhem-se quando anoitece, em noites de verão.
as alfaias que guardam logo ali, pelo feno, já as usaram os avós.
Abatem uma árvore que sombreia a horta
e as restantes conhecem-nas sem nelas pensarem.

Uma cepa sem trato e descuidada, parece mal.
Os campos de milho depois de cortados são campos de estrepes, afiadas pelo metal.
O vinho conta-se em almudes, e o grão em caixas de castanho.
Quando era menino via a senhora Maria amassar o pão nessas mesmas caixas, na cozinha velha da casa antiga.
E o senhor Cipriano, já centenário, passava de charrete.
Agora, um ministro de boné passeia-se no seu tractor de recreio, e as pessoas da aldeia guardam o silêncio de mudez nada surda.
Eu, que tenho demasiadas gerações de cidade, falo um pouco mais. pouco mais.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Titã





A lua de Saturno Titã vista da sonda Voyager 1, em Novembro de 1980

A primavera do ano que começa

"...
As caravanas partiram. E o Splendid-Hotel foi construído sobre o caos de gelos e de noite do polo.
Desde então, a Lua ouviu o uivo dos chacais nos desertos de timo - e a éclogas saloias grunhindo ao vergel. Depois, na grande mata violeta em botão, Eucáris disse-me que era primavera.
- Irrompe, charco, - Escuma, rola sobre a ponte e por cima das árvores; - velos negros e orgãos - raios e trovão, vinde e rolai; - Águas e tristezas, crescei e restabelecei os Dilúvios.
Pois, desde que eles se foram, - oh, as pedras preciosas aluindo, e as flores abertas! - é o tédio! e a Rainha, a feiticeira que esperta o seu lume na frágua de barro, nunca quererá contar-nos o que sabe e nós ignoramos."

Excerto de Depois do Dilúvio, das Iluminações de Jean-Arthur Rimbaud

domingo, 28 de dezembro de 2008

domingo, 21 de dezembro de 2008

domingo, 14 de dezembro de 2008

Metgethen

dizemos que ronda o frio, e que há dor que pousa na indiferença das horas, algumas horas.
mas não sabemos nada. nada de dias em que a noite se sucedia sem alvorada que a cortasse.

sábado, 29 de novembro de 2008

Cabeçada

Tese - ... constou-me que ontem cirandaste pela cidade, sem propósito...

AC - nada que te toque.

Tese - nem cabeçalho tenho...

AC - pouco barulho

Tese - ... pouco silêncio...

AC - e um caixote do lixo à tua espera?

Tese - ...caixa de música para o teu fracasso!

AC - Desinfecta!

Tese - fica-te nesse pensamento.
(Quando logo te esticares no sofá, aí te visitarei...)

xy:z

Bobo: A Verdade é uma cadela que que obrigam a recolher ao canil: enquanto a correm a chicote, Princesa, a cadela de caça pode ficar tresandando junto ao lume.

Lear: ferida envenenada que me dói!



Excerto de
O Rei Lear,
com tradução de Álvaro Cunhal,
da CAMINHO

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

02:2etal

Na outra noite, cansado dos dentes ruidosos da Matilde, levantei-me da cama num impulso e arremeti-me no sofá da sala para 5 minutos de descanso. Encerrei-me por debaixo de um braço, mas senti nas pálpebras uma iluminação excessiva que me fez abrir os olhos: - devo ter ligado a televisão ao afastar o comando para me esticar - pensei com alguma surpresa. As imagens do filme que passava na 2 eram igualmente enigmáticas: uma mulher de expressão assustada rezava uma Avé-Maria ao volante. Seguia viagem, parava numa rua onde todos fugiam cada um para seu lado, alguns nem roupa tinham. Surge uma velha no vidro do automóvel e exclama: - Fuja menina, que é o fim do mundo! Tudo aquilo me era real.
Comprendi naquele instante que não podia continuar ali e regressei à cama.

sábado, 22 de novembro de 2008

E o realizador não era o Sergio Leone

...
Era um jovem desleixadamente vestido, com uma sobrecasaca de mangas ensebadas até ao lustro, um colete cheio de nódoas abotoado até ao pescoço para tapar a ausência de camisa, desaparecida sabe Deus como, com um cachecol de seda negra incrivelmente emporcalhado e torcido como uma corda, as mãos sujas...
O seu rosto não exprimia a mínima ironia, a mínima reflexão; pelo contrário, era o espelho de completo e torpe arrebatamento pelo seu direito e, também, de qualquer coisa próxima da permanente e estranha necessidade de ser e se sentir sempre ofendido.
...


excerto de O Idiota,
de Fiódor Dostoiévski

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

17.46

ou como gosto da cidade.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Elis



Ah! Dizem que fazia amor com qualquer um... E que se drogava

Ah! Dizem que foi apanhada a ver o mar com outra mulher...

Ah! Dizem que foi encontrada morta... Os pulsos cortados.



"dizem que não sabiam quem era",
Jorge Palma

sábado, 8 de novembro de 2008

A Ascenção da Liberdade

"...o que é que acontece à pérola do nosso ser, o que sucede com a nossa liberdade?
A liberdade, responderei, mas não vedes então, do ponto em que me coloco, que ela aparece por todos os lados, - e que ela cresce por todos os lados?Eu sei: por uma espécie de obsessão inata, não conseguimos desembaraçar-nos da ideia de que é ficando o mais isolados possível que nós seremos mais senhores de nós próprios. Ora, não será o contrário que é verdade ? Não o esqueçamos. Em cada um de nós, por estrutura, tudo é elementar, incluindo mesmo a nossa liberdade.Impossível desde logo continuarmos a libertar-nos sem nos reunirmos e nos associarmos convenientemente. Operação perigosa, certamente, uma vez que, seja misturadas em desordem, seja engrenadas entre si como simples maquinismos, as nossas atividades neutralizam-se ou mesmo mecanizam-se (como experimentamos à saciedade). Mas operação salvífica, também, visto que, unidas centro a centro (ou seja, numa visão ou numa paixão comuns), elas se enriquecem indubitavelmente. Uma equipe, dois amantes... Operada na simpatia, a união não se limita, ela exalta as possibilidades do ser. A uma escala limitada, é o que se experimenta por todos os lados e todos os dias. A uma escala mais vasta, à escada do total, se a lei é inerente à própria estrutura das coisas, por que não haveria ela de valer ainda mais?Simples questão de intensidade no campo que polariza e atrai. No caso duma união cega ou dum arranjo puramente instrumental, é verdade que o jogo dos grandes números materializa, - mas, no caso duma unanimidade realiza pelo interior, ele personaliza e mesmo, acrescentaria eu agora, infalibiliza as nossas actividades. Uma só liberdade, tomada isoladamente, é fraca, incerta e pode facilmente errar nos seus tateios. Uma totalidade de liberdades, agindo livremente, acaba sempre por encontrar o seu caminho. "



Capítulo de conclusão do artigo de Teilhard de Chardin publicado na Revue des Questions scientifiques, em 1947, intitulado "A formação da noosfera"

domingo, 2 de novembro de 2008

Eco


que me anima, afinal,
criar é comunicar.

domingo, 26 de outubro de 2008

Dia de rio



não passa por aqui o Tritão, e à bolina de vela caçada, falta a ausência de limite que cessa apenas
com o virar de bordo.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Tempo furtado

Quando todos os ruídos humanos me perturbam
E me afasto em fazer-me só
logo aí invoco a febre compassada que me invade, e te digo que
Antes de ser terrível, é ainda doce a manhã.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Só esta música por estes dias. e outras

E a Matilde dança sem saber ainda andar

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Cut

...as palavras como rebeldes sem lei...

sábado, 27 de setembro de 2008

D`aqui

só vejo o azul a azular e o sol a vermelhar.