Ainda sobre Nicholas Ray, o arquitecto que estudou com FLWright, e transformou, também ele, o curso do cinema. Mais concretamente, sobre Johnny Guitar, um western que ultrapassa largamente essa dimensão. Outros realizadores ultrapassaram a dimensão aparentemente estanque deste género, e para lá das máximas do Oeste que inundam a nossa imaginação, afinal retrataram a luta de homens contra os fantasmas de sempre: o medo de falhar , a fuga pelo alcool, o incontonável momento da verdade que sempre emergia e só poderia trazer a coragem de agir correctamente, ou a diluição pelo medo...
Porém este filme surpreende e poderia inclusivamente apresentar outro título: Vienna, o nome da protagonista feminina, que neste filme parece só poder ser a Joan Crawford...
Johnny Guitar é um western de uma cenografia rara e dramática, não prescinde da cena de assalto ao banco, ou da luta à entrada do saloon, mas trata, verdadeiramente, do amor e consequente desamor que o rodeia. E aqui Vienna assume uma dimensão invulgar no cinema, é ela o centro de toda a acção, e justamente, pois de forma quase imperturbável agrega as virtudes que parecem esboroar-se à sua volta, sem abdicar da sua condição feminina.
É uma personagem imaginada, ou antes, imaginada por um homem (Nicholas Ray) à luz da sua consciência, que se inscreve no reverso da condição de estrela intangível, de diva - solta desse pedestal, e sem abdicar da virtude e da admiração alheia, é livre, e nessa condição, verdadeiramente humana.