sábado, 31 de janeiro de 2009

"I will honey but now i got to get going"







Vi-o pela primeira vez de forma inesperada, no sofá da sala das horas tardias e já sem tempo, e não mais o larguei. Já havia visto Lynch, mas não de forma tão tangível, como se me cruzara com aquelas personagens em cantos do pensamento que é sonho de liberdade. e havia uma mulher que vestia apenas a sensualidade.
Encontrei-o de novo no Spazio Oberdan, no ano em que passei mais tempo na rua que debaixo de quatro águas. Desta vez com a inclusão da curta que havia integrado a apresentação em Cannes. assisti, full screen, ao ritual preciso de acender um cigarro.
Dizia à pouco que não acreditava em coicidências, meras abstrações lógicas plantadas pela superstição, mas recordei-o novamente depois do acidente do carro para a sucata: libertadas as pernas dos plásticos e sem um aranhão como me acontece, procurava, interessavam-me unicamente as chaves de casa.
Wild at heart é um dos meus filmes indissociáveis e vou-o encontrando numa curva, na febre de um quarto, a alumiar um cigarro.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Nadir Afonso





Douro


Fernando Lanhas









Belas Artes, 1942

Ontem pelo final da tarde estiveram à conversa no Porto, Nadir Afonso e Fernando Lanhas.
Sem alaridos, como por aqui acontece, falaram para uma reduzida plateia cada maior em número e cada vez mais pequena. Lanhas, da Arte, que "O homem só repara, que a nós não nos compete falar da arte". Nadir responde na esteira do pensamento que fundou toda a sua criação, "A arte procura a geometria como as plantas procuram o sol...". Sucedem-se as estórias, de Paris de Vasarely, do Rio de Niemayer. De Chaves e de Trás-os-Montes, onde a hipersensibilidade do artista apreende a presença da matemática e da geometria na harmonia das formas, nas suas regras universais.
É ainda o tempo dos Mestres.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

domingo, 11 de janeiro de 2009

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Obliquar #1

Circadiano


Nas aldeias,
recolhem-se quando anoitece, em noites de verão.
as alfaias que guardam logo ali, pelo feno, já as usaram os avós.
Abatem uma árvore que sombreia a horta
e as restantes conhecem-nas sem nelas pensarem.

Uma cepa sem trato e descuidada, parece mal.
Os campos de milho depois de cortados são campos de estrepes, afiadas pelo metal.
O vinho conta-se em almudes, e o grão em caixas de castanho.
Quando era menino via a senhora Maria amassar o pão nessas mesmas caixas, na cozinha velha da casa antiga.
E o senhor Cipriano, já centenário, passava de charrete.
Agora, um ministro de boné passeia-se no seu tractor de recreio, e as pessoas da aldeia guardam o silêncio de mudez nada surda.
Eu, que tenho demasiadas gerações de cidade, falo um pouco mais. pouco mais.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Titã





A lua de Saturno Titã vista da sonda Voyager 1, em Novembro de 1980

A primavera do ano que começa

"...
As caravanas partiram. E o Splendid-Hotel foi construído sobre o caos de gelos e de noite do polo.
Desde então, a Lua ouviu o uivo dos chacais nos desertos de timo - e a éclogas saloias grunhindo ao vergel. Depois, na grande mata violeta em botão, Eucáris disse-me que era primavera.
- Irrompe, charco, - Escuma, rola sobre a ponte e por cima das árvores; - velos negros e orgãos - raios e trovão, vinde e rolai; - Águas e tristezas, crescei e restabelecei os Dilúvios.
Pois, desde que eles se foram, - oh, as pedras preciosas aluindo, e as flores abertas! - é o tédio! e a Rainha, a feiticeira que esperta o seu lume na frágua de barro, nunca quererá contar-nos o que sabe e nós ignoramos."

Excerto de Depois do Dilúvio, das Iluminações de Jean-Arthur Rimbaud